domingo, 11 de novembro de 2012

Parnaíba (PI) a Paulino Neves (MA)



Por Ivan Nóbrega.

Fechando o ciclo...

A realização do  desejo de percorrer pedalando todos os nove  estados nordestinos, concretizou-se no último dia 20 de agosto de 2012. O último percurso,  de Parnaíba - PI até Paulino Neves- MA foi o mais curto de todos os outros seis  os quais  abrangeram os estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piaui.
Com apenas 174Km percorridos em um dia e meio, nem de longe foi a mais fácil ou a menos prazerosa etapa. O calor e a alta umidade apimentavam  o desafio, enquanto que as paisagens alimentavam as nossas  retinas com belas imagens.

Deslocamos de carro de Natal até Parnaíba e após dormirmos  em um hotel maravilhoso e barato iniciamos os preparativos às 8.00.  O  sol já mostrava os seus efeitos.
Arrumamos as Bikes e atravessamos a cidade de Parnaíba com algumas ciclovias e muitas bicicletas utilizadas como transporte pela população economicamente menos favorecida.
Como havia trocado o ciclocomputador e tendo sido aferido pelo parceiro Tácio, imprimia um ritmo razoável e a minha velocidade  não passava dos doze Km/h. Comecei  achar que não estava bem. Perguntei a Abel qual era a sua velocidade e  ele confirmou-me ser exatamente igual a minha. Estranhei, pois minha experiência me dizia que algo estava errado. Um a zero para ela. Nossos computadores estavam marcando  milhas. 
Muito líquido e tudo saindo pelos poros com o calor já dando boas vindas.
Após saírmos da BR 343, que liga Paranaíba a Teresina,  atravessamos a ponte  sobre o rio que dá nome a cidade do Piauí e divide os estados do Piauí e Maranhão e iniciamos  a MA 345.    
A pista estreita, quase sem acostamento, aumentava a nossa preocupação quanto à segurança. No entanto, para nossa surpresa, todos os motoristas, incluido os de veículos maiores, passavam por nós obedecendo no mínimo, a distância regulamentar de 1,5m. Os que cruzavam por nós buzinavam, acendiam os faróis e acenavam  em saudação. Nota dez para os maranhenses.
E o calor, hein? Água de côco, nem pensar. No maranhão côco só de Babaçu. Reposição eletrolítica era mais que necessário para não “bater o motor”. Banho de cacimba? Muito bem vindo pois além de refrigerar o corpo, permitia a interação entre os habitantes dos lugares que certamente jamais teríamos oportunidade de conhecer se estivéssemos utilizando outro meio de transporte.
Nesse particular, em uma dessas paradas, conhecemos o seu Joca, um senhor de idade com um pequeno comércio, que vendia de tudo. Desde  antigos  aparelhos de barbear no qual se desenroscava o cabo e acoplava uma lâmina de Gilete, passando por leque, bolas de naftalina, remédio para vermes e sola de couro para alpercatas. Um papo descontraído e uma amizade eterna na memória e contraditoriamente fugidia.
O trecho apresentava-se com muitas elevações, que apesar de não serem muito inclinadas, eram constantes. Em uma delas a subida longa parecia que terminaria no céu...
Parada para o almoço e o primeiro contato com os  nomes inusitados das cidades. Placa era o título desse povoado, que junto com Comum, Zé Doca, Chapéu de Couro, formam uma coleção de nomes curiosos no estado maranhense.
Um lugar simples para comer e uma  única rede de Tucum na qual revezávamos os cinco enquanto o almoço não chegava. Foi aí que tomei o melhor suco de cajá dos últimos tempos. Batido no leite, repetí tres grandes copos. Alí também assistimos a passagem de um redemoinho que espalhou poeira por  todo o ambiente.
 Saímos da MA 345 e entramos na MA 402 em direção á Tutóia. Primeiro imprevisto: Parte-se a corrente da Bike de Tácio. Mas como ele é mecânico e dos bons, resolveu facilmente o problema.

Caía a tarde e com a estrada  estreita e o volume de tráfego considerável,  decidimos por segurança, não percorrer os últimos 15Km até Tutoia e pernoitar no próximo povoado  A pequena cidade de Barro Duro.nos recepcionou na entrada com um belo rio nos moldes amazônicos, bem caudaloso. Havíamos percorrido 106km. Parece pouco; mas dada  as condições de calor e subidas, estava de bom tamanho..
A Igreja com os seus quatro alto falantes  direcionados a todos os pontos cardeais, produzia um som rachado de péssima qualidade, resultando  em um tsunami de decibéis. A única  pousada, da cidade estava localizada aonde? Claro, em frente a Igreja. Um pouco  mais a frente, Reggae maranhense,  carro de som  divulgando  seus candidatos à próxima eleição, profanavam  o clero e os nosos pobres  ouvidos. Povo prá gostar de barulho. Penso que o Deus deles deve ser meio surdo. 
Só havia um quarto  com ar condicionado. Fomos os cinco tentar fugir do barulho. Mais uma vantagem de pedalar. O cansaço nos deixa mais tolerante e conseguimos dormir  após a meia noite, quando o barulho já arrefecia. Até que um pesadelo com trilha sonora nos acorda 5h da manhã. Era o padre novamente com o seu som rachado venerando o Deus decibéis. Assim não há cristão que aguente!
Café da manhã incuído na diária de  R$15,00 com melancia e tapioca como Up grade.
A entrada para Paulino Neves, já nos pequenos lençóis fica a 2km antes de Tutóia. Decidimos seguir àquela cidade imaginando comer um peixe à beira mar e iniciar os últimos 32 km até Paulino Neves  quando o sol começasse a dar uma trégua.
Paramos em um posto de gasolina para abastecer as bolsas de hidratação com gelo e fomos cercados por garotos admirados com as bikes. O frentista curioso fazia perguntas sobre a nossa aventura e nos presenteou com um inusitado brinde. Um  kit contendo um rolo de papel higiênico e um sabonete, sem haver nenhuma logomarca do posto. Será que estávamos cheirando mal? Não sei... Talvez mais uma gentileza do povo maranhense.
Tutoia  apresentou-se  como uma cidade confusa no trânsito e uma orla que  nos deixou muito decepcionados. Apenas duas palhoças onde funcionavam arremedos de restaurantes. Comemos um peixe e não esperamos o sol esfriar. Reiniciamos o pedal já por volta do meio dia. Compensou. O trecho era maravilhoso. Muitas curvas, poucas subidas, um vento refrescante e vários rios de águas limpas, serpenteados de palmeiras de buriti onde  os curumins a se banhavam, sem o  menor pudor, em traje de Adão. Mergulhamos em um desses rios e chegamos finalmente ao nosso destino: Paulino Neves.
Alí  localizam-se os pequenos lençóis, que são a porta de entrada do Lençóis maranhenses. Para completar o passeio, só com veículo 4X4 em função da areia a perder de vista. Alugamos uma Toyota com motorista e fomos a Caburé,- barra do rio preguiças,- que  em um belo passeio de voadeira  com duração de  45 minutos com paisagens deslumbrantes, chegamos em  Barreirinhas.
Agradável  cidade às margens do rio Preguiças em que se percorre sobre um deck onde se localizam os bares e restaurantes com uma noite super agitada repleto de gente em busca das belezas proporcionadas pelos passeios nos Lençóis.
Dia seguinte fomos até os grandes lençóis, por uma trilha digna dos mais desafiadores rally que por sinal acontecia o segundo maior do mundo e o maior do Brasil; o dos Sertões.

Um belo deserto onde as lagoas são super bem vindas ao banho em função do calor. Mergulhamos todos e lavamos as nossas lembranças dessa bela viagem para guardar com muito brilho em um lugar muito especial na memória.
Participaram da viagem. Abel, Armando, Ivan, Paulo e Tácio.

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